quinta-feira, 20 de maio de 2010

Aqui dentro

A cama está quentinha, as pernas abraçadas ainda não despertaram para o alarme do relógio. Mais 5 minutos. Vira para o lado, um beijo no pescoço, costas com peito. O antes incômodo procedimento de acordar cedo se torna o momento mais doce do dia.
Outros 5 minutos de soneca para despertar outra vez, outro beijo, murmurar palavras mau-humoradas e dar um pulo preguiçoso para o mundo sem algodão de carne, olhos de cobertor, boca de colchão, mãos de travesseiro.
O dia é o que acontece entre a saída e a chegada.
Na volta, o carro na garagem apressa a vontade. Lá fora é frio, cerveja, barulho. Carros buzinam para uma fila que não tem aonde ir. Aqui dentro, calor e vinho. Barulho de chuveiro e conversa através do vidro nublado.
Um livro, um filme, um jogo de futebol na TV, o sofá, a cama. As pernas se buscam novamente, agora afoitas, seguidas pelas mãos, lençois, boca, travesseiro, pele...
O ritual da rotina termina onde começou. O dia dorme com sabor acre do vinho, acorda doce.

****
A gente percebe que envelhece quando prefere o lado de dentro. O mundo ainda é interessante, mas nem tanto.
E, perplexo, admite que é bom.
É muito bom.

2 comentários:

  1. E a vida aí dentro anda inspiradora, hein? Os leitores agradecem!

    Texto lindo de doer.
    Vida linda de viver.

    ResponderExcluir
  2. verdade...
    preferimos o lado de dentro. da casa. do outro. de nós mesmos.
    e a vida segue calma.

    ResponderExcluir