terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Morar junto é...





Se assustar em ter sempre alguém do lado na cama quando acorda.
Ter companhia pra fazer tudo. E para não fazer nada também.
Fugir de casa para não ver ninguém em dias de TPM.
Receber ligações semanais da sogra.
Pensar todo dia na janta, mesmo que você se contente em comer só pão quando está sozinha.
Ceder o controle remoto só pra ficar de conchinha no sofá.
Encontrar tudo fora do lugar porque alguém “arrumou” - e ainda achar fofo.
Tomar vinho na rede numa quinta-feira.
Acordar com beijos e ouvir: quem sabe assim você não fica mal-humorada por ter que levantar cedo.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Querido Papai Noel



Querido Papai Noel,


No último Natal fiz uma extensa cartinha de pedidos. Sei que o senhor tem muito trabalho e que fui egoísta tomando o seu tempo com tantos quereres. Exagerada que sou, não me contive em pedir apenas uma roupa, um livro ou um objeto qualquer. Desejei, isso sim, tudo de uma vez: vida nova, homem, felicidade. Mesmo sabendo que não é pouco, esperneei como filha única até conseguir o que queria. Pois bem. Não sou tão boa menina assim, como denunciam os meus atos, mas vejo que o senhor fez um bom trabalho.
A vida nova chegou um tanto atrasada, já se tinha passado metade no ano. Mas valeu. Veio no capricho: com direito a cidade nova, casa nova e trabalho novo. Desejo levado ao pé da letra... Veio também aquele moço que, num certo Natal, eu lhe pedi, o senhor deve ainda se lembrar. Ele agora está aqui ao lado, enfeitando o nosso pinheirinho natalino...
Como se não bastasse, o senhor ainda presenteou meus amigos com uma vida nova também. Quando eles menos esperavam, tudo virou de cabeça para baixo e mudou – para melhor. A alguns, o senhor deu emprego novo; a outros, uma nova cidade e, a alguns, um novo amor. Teve quem até recebesse tudo de uma vez, assim como eu. E quem até  pensava em terminar o ano triste, já se arrumou também. No finalzinho de segundo tempo.
Com tudo isso, bom velhinho, a felicidade foi fácil de conseguir, imagino. Foi só olhar pela minha família, que o resto já estava feito!
Tudo isso para lhe dizer que, desta vez, não vá se escondendo da minha carta. Não farei tantos pedidos. Reconheço que o pacote foi bem grande no último Natal e que o senhor merece descanso. Assim, velho Noel, escrevo esta carta com muitos agradecimentos e apenas um desejo: que tudo continue como está!!
Beijos,
Tatiana

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Jornal com pimenta na língua


Minha mais nova aquisição: fac-similar do jornal criado por Oswald de Andrade e Pagú

Políticos, estudantes de direito, moçoilas normalistas da burguesia paulistana e até a realeza inglesa eram alguns dos alvos prediletos do bombardeio verbal disparado por Oswald de Andrade e Pagú, em seu jornal ‘O Homem do Povo’. Criado pela dupla modernista em 1931, o tabloide insolente pertubou tanto a elite da época, que não passou de oito edições.
Mesmo com vida curta, o jornal é um registro contagiante das vozes daquele momento histórico, repleto de referências políticas, comunistas e feministas, além de uma ortografia antiga que revela uma mudança brutal na Língua Portuguesa no decorrer no último século.

Pagú, impetuosa e libertária, não só escreveu muitos dos textos junto com Oswald como também desenhou quadrinhos e charges. Na coluna “Mulher do Povo”, fazia críticas ferrenhas às “senhoras catholicas” da tradicional sociedade, como na edição de 4 de abril de 1931. Abaixo, um trecho do artigo “Liga das trompas catholicas”:

“(...) E as senhoras catholicas se succedem num espoucar de normalistas e estudantes hipócritas, cheias de vergonha e bons modos (...). E vão vivendo a vida desmoronando e pequena. E a organização das ligas de trompas continuam escondendo qualquer consequência da sua falta de liberdade.
Senhoras que cospem na prostituição, mas vivem soffrendo escondidas num véu de sujeira e festinhas hipócritas e massantes, onde organizam o hymno (hino) de cornetas ligadas pr’a todos os gosos, num coro estéril, mas barulhento.”


********

No dia 9 de abril de 1931, um grupo de estudantes da Faculdade de Direito de São Paulo reuniu-se na praça da Sé para protestar e atacar a sede do periódico, após a publicação de uma violenta crítica àquela instituição. Segundo uma matéria no site O Povo Online, no segundo dia de manifestação, Pagú reagiu dando tiros em direção aos estudantes, além de atacar os manifestantes à unhadas. Pagú e Oswald foram levados para a central de polícia. Assim terminou a aventura do “O Homem do Povo”.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A moça que queria ler

Àquela hora da manhã, normalmente, o ônibus já estaria lotado. Os trabalhadores nordestinos da incansável "Pauliceia Desvairada" já estariam se espremendo no corredor apertado do ônibus trôpego, mastigado pelos buracos que tornam a selva do trânsito paulistano ainda mais hostil. As crateras estão sempre ali para lembrar que, mesmo quando não há filas, a passagem não é livre. O caminho é árduo. Os transportes que carregam os trabalhadores rumo às suas jornadas diárias são paus-de-arara empoeirados que sacolejam ao som de vozes baianas, paraibanas, cearenses.

Sentada junto à janela, encolhida como quem tenta encostar nos joelhos a cabeça, a moça parecia não sentir os solavancos da rua, nem os sons das vozes altas, nem o sono dos que ainda dormiam no coletivo. Com o jornal dobrado ao meio, esgueirava os dedos entre as letras da manchete principal e aproximava-se cada vez mais, desejando entrar na página. As sílabas saíam preguiçosas dos lábios, a voz ajudando os olhos a decifrar. Falava baixo, para si mesma, o banco ao lado vazio. Cansava. Parava. Abria o jornal e dobrava-o ao meio novamente, marcando bem a dobra, alisando-a, e pedindo ajuda mentalmente para o papel. Tornava a passar os dedos pelas letras e a balbuciar as sílabas, depois palavras inteiras, seguidas de um sorriso tímido por uma conquista envergonhada.

Ela soletrava uma palavra no mesmo instante em que alguém se preparava para sentar ao lado. Nem percebeu. O passageiro sentou-se, olhou confortavelmente para o jornal alheio e, então, foi percebido. De volta à consciência, a moça girou o olhar em torno de si, sentiu o ônibus tropeçar nos buracos e viu que uma garoa fina caía sobre a fila de carros. Puxou a mão que tateava as letras, baixou a cabeça, escondeu o jornal. Inquieta, conferiu as horas e espremeu-se contra a janela. O ônibus andava e parava, pesado, lento.

Sorriu com os olhos quando, finalmente, o passageiro levantou-se e apertou o sinal. Desembrulhou o jornal e mergulhou novamente na página cinza de palavras misteriosas.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A Sandra

Aqui no condomínio moram mais de 1,5 mil pessoas. São onze torres com 96 apartamentos em cada uma. Pra funcionar esse negócio, com tanta gente e tantos prédios, um exército de mais de 150 funcionários se divide em tarefas como administração, segurança, jardinagem, limpeza, portaria, etc. Desconfio que, desses, 99% são nordestinos. Como a Sandra.

Ela trabalha na recepção aqui do meu prédio. “Comecei como doméstica aqui em umas casas, fui babá, depois me contrataram para a limpeza e agora estou na recepção”, conta orgulhosa segurando seu rádio comunicador, sempre à mão. Já se vão oito anos de dedicação.

Com sotaque carregado de Irecê, cidadezinha da Bacia do São Francisco, na Bahia, com pouco mais de 61 mil habitantes, ela “vai formando” os gerúndios, sempre prestativa e educada. “Eu vou estar te entregando esta conta, aí a senhora pode estar assinando aqui, por favor”. Usa frases assim quando o assunto é trabalho. Se perguntam “tudo bem?”, ela responde com um “obrigada, e você, minha linda?”.

Quando veio para Sampa, decidida a mudar de vida como tantos outros, a Sandra trouxe um bebê no colo. Voltou tempos depois para a Bahia. Retornou com mais um filho. Na terceira vez que foi à terra natal, voltou com um sobrinho.

***

Logo que o Rafa se mudou, quando a casa não tinha mais que uma cama e muitas caixas, fui esquentar uma água para o chimarrão lá na cozinha da recepção. A Sandra me fez companhia. Viu a térmica e a cuia, esbugalhou os olhos e disse:

- Vixe, o seu Rafael toma esse negócio aí também, é?

Expliquei que os gaúchos são assim mesmo. Também estranhei no início, agora até tomo junto. A gente acostuma.

- O seu Ariel, do 230, também toma isso. Era dar um solzinho que ele descia com a garrafa (térmica). Oxe, eu ficava olhando aquilo... Pensava que era café. Mas pra quê o seu Ariel tomava tanto café? Aí fui perguntar pra empregada e ela me disse que era esse negócio de chimarrão.

- Quer experimentar?

- Deus é mais! Quero nada! A empregada disse que é amargo que só!


***

Avisei que receberia visitas neste sábado. A Fernanda e o Alexandre estavam autorizados a entrar. É bom sempre avisar a recepção para facilitar o processo, já que na portaria a identificação pode ser meio demorada.

Quando meus convidados chegaram, a Sandra já estava preparada. Mal botaram os pés no edifício, sequer tiveram tempo de abrir a boca, e a Sandra, radinho à mão, fez o reconhecimento e deu as instruções. Como uma agente do serviço secreto, costuma levar a sério este negócio de segurança. Fala como uma policial do FBI, aponta a direção com uma mão, o dedo estirado, e o rádio na outra. Na primeira vez, pode até assustar a visita. “Será que estou devendo algo para a justiça?”, pode-se pensar. A partir da segunda vez, torna-se engraçado.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Mandamentos para conquistar mulheres jornalistas:

(Funciona em 98% dos casos)

1 – Seja jornalista
2- Elogie o blog dela
3 – Não se enquadre em nenhum estereótipo de beleza
4 – Seja fã de Los Hermanos, Little Joy ou de algum músico que
a maioria das pessoas não conheça
5 – Jamais troque lâmpadas, acenda lareiras ou faça funções de homens comuns
6 - Demonstre inteligência
7 - Demonstre mais inteligência ainda depois de beber
8 – Beba bastante
9 – Não a convide para programas com pessoas "normais"
10 – Seja adepto da teoria dos múltiplos afetos.

*Baseado em fatos reais.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Despedida

Moro em Porto Alegre há 7 anos e tem muitas coisas que não fiz neste tempo todo. Pessoas que pouco vi, embora tivesse vontade de estar sempre perto. Lugares que não fui, simplesmente por saber que poderia ir a qualquer hora. Estavam todos ali, pessoas e lugares. Que bom se a vida sempre nos desse a oportunidade de nos despedir. Despedidas boas, felizes, daquelas que só acontecem quando a gente vai encontrar o próprio destino. Como diz a vó, destino é quando a gente não olha pra trás.

Sempre passava correndo pelo Centro da cidade. Ou tinha algum compromisso ou estava de passagem. Desta vez, eu tinha ido receber a rescisão. Na Praça da Alfândega, estavam os engraxates de sempre. Aqueles que tanto ouvi falar, que estão no mesmo lugar há décadas, que contam histórias de personagens da cidade, que estão se extinguindo. Eu nunca tinha parado para engraxar os sapatos como os velhinhos que costumam sentar ali, dois palmos acima do chão, com seus jornais e papo tranquilo de outros anos. Coisa de quem tem tempo sobrando, de quem não corre, eu pensava. Com a rescisão na mão e oficialmente desempregada, eu tinha tempo.

Encontrei um velho que aguardava um cliente, sentei ali em cima de onde se vê tanta gente passando, posicionei as botas de couro marrom e tratei logo de puxar conversa, que eu não sei quando poderei fazer isto novamente. Enquanto limpava o couro, o homem contava que há 37 anos estava ali, no mesmo lugar. Em outros tempos, as casinhas dos engraxates não eram do Banrisul. “Não sei por que tem o nome deles aí. Alguém deve ganhar. Eu é que não ganho”, dizia.

Seu Getúlio disse que houve uma época em que não se podia ficar no Centro. Coisa triste. Mais de 15 assaltos numa tarde. Depois, quando o PT entrou, melhorou muito. Aí veio o PMDB, achou que ia piorar, mas até que não. “Nem pra melhora, nem pra piora”. E já se foram mais de 20 anos. O Centro tá bom, mas o movimento é que não melhora. Pouca gente se senta para ver os sapatos engraxados e escutar histórias. Porque antes de passar a graxa mesmo, vai bem umas três ou quatro etapas. Demora. “Eu faço meu serviço direito”, garante seu Getúlio.

Um senhor com barba branca e rabo de cavalo passa no momento em que seu Getúlio começa a passar a primeira mão da tinta. Carrega uma pasta com um adesivo clamando “Fora Yeda” e sorri. Ele diz que nunca viu uma moça sentada ali. “Que bom isso”, me diz. Sorrimos, demos tchau, a tarde já ia começando. As pessoas saem apressadas do prédio para o horário de almoço. Eu, ali.

Seu Getúlio passa mais outra camada de graxa e esfrega com um paninho. Esfrega forte e de novo. Depois, pincela algo pra dar brilho. Esfrega. Enquanto isso, seu Getúlio ia me contando a vida. Disse que eu aparecesse mais vezes. Estou indo para São Paulo, contei-lhe. “Ah, terra poluída! Não fui, mas não gosto. Não largo o meu Rio Grande por nada. Mas eu nasci mesmo em Santa Catarina”. Com os sapatos brilhando, impecáveis, me despedi enquanto outro cliente antigo já aguardava a sua vez. Em São Paulo, vou adotar o hábito de engraxar os sapatos na rua, decidi.

Foi mais uma das despedidas das coisas que não tinha feito. Nas últimas semanas, também revi pessoas, bebi com outras, me reaproximei alguns. Mas “o que deixei de fazer” e “quem não vi” não foram mais importantes do que tudo o que vivi e conheci aqui. Me encontrei em Porto Alegre. Encontrei amigos que farão falta a cada dia, pessoas que compartilharam a faculdade, as festas, os papos sonhadores, o primeiro estágio, os primeiros dramas jornalísticos, as paixões, os casos, as risadas, o primeiro emprego, as tardes de sol com chimarrão na redenção. Cerveja na Rua da República, Lancheria do Parque, andanças pela Osvaldo. Coisas que não voltam, mas ficam.

domingo, 23 de agosto de 2009

Sem açúcar, sem afeto.

Dia desses li, não sei onde, algo sobre a busca da sociedade moderna pela ausência de dor e, de uma forma indireta, de sentimentos também. Temos remédios e soluções artificiais para tudo. As mulheres, para não sentir a dor do parto, optam por cirurgias e anestesias que, se por um lado tornam a função mais fácil, também tornam o momento tão frio quanto uma cirurgia no estômago, dizem. Se estamos cansados, tomamos energéticos ou algum tipo de estimulante porque temos que cumprir o trabalho ou ficar acordados por um motivo qualquer. Sono se controla. Falta de sono também. Remedinho pra dormir, caso um probleminha resolva atrapalhar. Não podemos mais ter variações de humor, tudo é uma questão de bipolaridade. Está na moda. Já vi muitas pessoas tomando Ritalina por terem déficit de atenção. Não sei os médicos avisaram que o preço pode ser uma psicose, adquirida como efeito colateral da balinha que muita gente toma até para ir a festas. A gente não quer ter dor de cabeça, não quer sofrer por um amor, não pode alegar cansaço no trabalho, não pode parar. Temos que ser máquinas que absorvem quantidades cada vez maiores de informações, que assobiam, chupam manga, twittam, falam no celular e respondem emails ao mesmo tempo. A gente tem que trabalhar sem se preocupar com hora, pois no mundo moderno não existe mais essa coisa de vida privada. Mundo chatinho esse sem dor, sem sentimento. Não tenho uma placa de ferro no lugar do estômago.

domingo, 21 de junho de 2009

Poemando

Porto? Alegre. Será?
Rio Grande? Mar Imenso do Rio. De Janeiro.
Bah? Bah-ia.
São Paulos, são Joãos, são Marias, são pessoas que fazem uma cidade.
Deu pra ti.
Baixo astral.
Tchau.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Conto de fadas


A Lara tem apenas três anos mas, para seu próprio bem, não se deixa enganar pelo romantismo fajuto das historinhas de príncipe e princesa. Nunca consegui entender por que, desde pequenas, as meninas têm que ficar lendo livrinhos com cenas de beijos, casamento, bruxa disputando príncipe com princesa, e por aí vai.

Mas Lara tem uma versão melhor para a Branca de Neve. Realista, ao menos.
Era uma vez, uma bruxa que deu à princesa uma maçã envenenada e a pobre moça caiu num sono profundo. Muitos anos se passaram até que um príncipe apareceu e acordou a jovem donzela com um beijo. E foram felizes para sempre. Magia? Poder do amor? Príncipe encantado?
Não. A explicação é que o bonitão conseguiu “desengasgar” um pedaço de maçã “venenosa” que estava entalada na guela da princesa. Boa, Lara! Essa menina não vai cair em qualquer conversa.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Eu e o 4


Os ciclos da minha vida costumam ter quatro anos. É como se esse número simbolizasse mudanças, novas fases, transições. É sério. Deve ser a conjunção dos astros ou a entrada de uma nova era no meu mapa astral – ainda pretendo consultar um astrólogo para entender o fenômeno. Como diz a música, “a gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá”. É verdade, Chico.

Em 2005, deu-se a última intervenção da tal roda na minha vida. Conheci o Rafa, meu atual namorado, depois de passar QUATRO anos com o ex, e fui morar na Alemanha. Veja bem, não é pouco. Achar o amor da vida (pelo menos eu acho que achei) e ainda mudar de país no mesmo ano, é muita coisa, sim senhor. Até acho que uma coisa poderia ter acontecido bem longe da outra, mas tudo bem.

QUATRO anos antes, em 2001, eu morava em Araranguá e me preparava para uma outra grande mudança: terminava o terceiro ano e iria para a cidade grande prestar vestibular. No fim daquele ano, comecei a mês despedir da cidadezinha e da vida pacata do namoro em casa, arrumei as trouxas e me vim para Porto Alegre. Nem precisa dizer que tudo mudou.

Bem, completei QUATRO anos de namoro neste 2009 e adivinhe? Mudanças. O moço, meu digníssimo, finalmente foi promovido de morador da floresta mato-grossense para habitante da megalópole, São Paulo. A presença do número QUATRO nessa história me faz crer, óbvio, que esta mudança diz respeito diretamente a mim.

E, pelo jeito, a tal roda viva aproveitou a passada para dar um jeito na vida da melhor amiga também. Mais uma razão para eu acreditar que o negócio é comigo (egocêntrica, eu??). Juro. A amiga - aquela da faculdade, parceira das primeiras jornadas do jornalismo, das primeiras noitadas em Porto Alegre, aquela que poderia escrever a minha biografia (não que eu pense que alguém vá se interessar), que é presença diária obrigatória – também entrou na roda e vai mudar de tudo. De emprego, de cidade, de Estado. A minha vida porto-alegrense agora será dividida em A.d.. e D.d. Sim, por que eu terei que reformular a minha rotina e até os meus dramas – não é todo mundo que aguenta uma amiga dramática e possessiva como eu. Sem contar com o que vai acontecer com ela.... certamente, muito mais reformulações.

Mas, como eu sou uma baiana de Araranguá que morou na Alemanha, como diria o Mr. Lorea, sei que a gente perde umas coisas e ganha outras. Sei que a melhor amiga merecia uma boa guinada na vida e que tem coisas que mudam, mas não acabam. A gente tinha consciência que as coisas não seriam assim para sempre, claro, mas o futuro nunca parece hoje. O futuro está começando (devo ter ouvido isso em alguma campanha de fim de ano da Globo) e, que bom, as mudanças são bem-vindas.

“Faz tempo que a gente cultivaA mais linda roseira que háMas eis que chega a roda vivaE carrega a roseira pra lá...

quarta-feira, 11 de março de 2009

Fechadinha básica

Eu não queria fechar um carro no trânsito logo de manhã cedo. Isto sempre pode provocar uma reação que torna o resto do dia estressante. Acho que atrai energias ruins...

Mas, a caminho do trabalho, há um trecho que, muitas vezes, exige uma manobra um pouco mais “ousada”. É preciso entrar na pista da direita, descendo um viaduto, e, na mesma hora, passar para a da esquerda a fim de entrar na próxima rua. Geralmente, dou o sinal pedindo passagem. Raramente sou atendida. Quando sou forçada a atravessar na frente de um carro, sempre fico com raiva imaginando que o motorista (quando é um homem) está pensando: atravessando assim, só podia ser mulher. Às vezes o pensamento deles é externado em formas de xingamento. Fazer o quê? Eles nunca nos deixam passar...

Hoje, devido ao intenso fluxo, dei o sinal e tive de “ir entrando”. Como o sujeito estava devagar, achei que ia me ceder lugar. Mas, não. E dei uma fechadinha básica. Na primeira sinaleira, vi que o Peugeot preto parou bem ao meu lado. Eu e ele estávamos com as janelas abertas.Não aguentei e olhei, para ver se ele demonstrava raiva de mim. Como ele não me xingou, me desculpei:

- Desculpa, te cortei...
- Não, sem problemas. Eu é que não vi a sua seta.

E o dia começou melhor. Bom saber que existem pessoas educadas no trânsito e que a mulher não é sempre a barbeira da história.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Trocando o óleo (no bom sentido)

Estava adiando ao máximo a primeira troca de óleo do carro. Havia uns 300 quilômetros que a hora chegara, mas continuava retardando este momento, como se esperasse por alguém que iria parecer e fazê-lo por mim. Ok, nós mulheres podemos fazer tudo sozinhas. Mas algumas coisas definitivamente não fazem falta. Trocar pneu, arrumar aquelas coisinhas simples porém chatas que vivem estragando em casa e matar insetos são coisas que prefiro deixar para eles. A ideia de entrar sozinha numa oficina sem ao menos saber que óleo eu devia pedir, encarando aqueles homens de macacão engraxado, olhando como se a gente não entendesse nada de carros, e ainda correr o risco de ser engabelada, me desanimava. Até porque eu realmente não entendo mesmo nada de carros, tampouco de óleo.

- Oi, eu queria trocar o óleo do carro.

- Certo. E qual óleo a sra. vai querer?

- Pode me mostrar as opções? (na verdade eu queria dizer: Não sei, moço, qual o mais barato?).

- Temos estes aqui (mais ou menos umas 10 marcas). Vai trocar o filtro também?

- Não sei... (hein?? filtro?????????????)

Optei pelo mais barato.

Para a minha surpresa (e felicidade suprema), o Jet Oil da Ipiranga não se parecia em nada com os postos e oficinas mecânicas do meu imaginário. Já de cara, o local era tão limpo e organizado que mais parecia um consultório médico. Quem me atendeu foi um homem (seria mecânico?) educado, com uniforme limpo. Bem mais preparado do que alguns atendentes de banco e de companhias telefônicas por aí.

- Vai demorar uns 15 minutos. A sra. Aceita um café?

Café? Sim, claro. Já comecei a gostar dessa coisa de trocar óleo. No computador, ele ia preenchendo uma ficha com dados meus e do carro. Descobri que não conhecia informações básicas do meu corsinha amado, mas da próxima vez levo uma cola. Me senti uma mãe, saindo pela primeira vez do pediatra com a ficha de vacinas do bebê.

Enquanto trocava o tal óleo e o filtro (que ele fez questão de explicar para que servia, mas eu confesso que já nem me lembro mais), o sujeito contava a história do Jet Oil, um sistema que já existia há sei lá quantos anos nos EUA, que utiliza uma bomba para injetar o produto no carro, tornando assim desnecessária a compra do frasco e barateando o custo para os consumidores. Interessante.

Terminada a função, ofereceram uma aspiração no veículo. De graça? Claro. Gostei mais ainda de trocar o óleo. E quando eu achei que havia terminado, ainda me deram de presente um kit churrasco. Virei fã do Jet Oil.

Aguardo ansiosamente pela próxima troca, nos 10 mil quilômetros.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Pérolas da babá

Estava lendo o blog da Leonor e fiquei morrendo de vontade de escrever umas coisas engraçadas e desconsertantes sobre o meu filho. A Leonor escreve cada coisa sobre o Luquinhas que o moleque acabou famoso no mundo virtual. As crianças costumam mesmo render boas crônicas. Pena que eu não tenho filhos.

Em compensação, fui babá da Emily e do Carlos, dois alemãezinhos que estavam, na época, com 1ano e meio e 4 anos, respectivamente. Mais conhecidos pela babá como o bebê gigante e a peste (respectivamente também).


*****

Num dia de sol, a babá-brasileira-mão-de-obra-barata estava no parque com a duplinha e mais outra babá-brasileira-mão-de-obra-barata que, por sua vez, carregava a sua própria alemãzinha de nome Clair. Parece que o Carlos simpatizou com a Clair. Como todos os machos, em qualquer lugar do mundo e em todas as idades, começou a estufar o peito e tentar parecer forte e protetor.

A Clair (3 anos), como todas as mulheres, em qualquer lugar do mundo e em todas as idades, se aproveitou. Veio se queixar de que um certo menino jogou um balde de areia sobre a sua cabeça, assim, sem razão alguma. O Carlos, para meu orgulho, se mostrou indignado e perguntou:

- Wer hat dass gemacht?
(Quem fez isso?, disse ele em alemão. Apesar de ser tão novinho, o danado conseguia falar muito bem a língua).

Satisfeita pelo efeito que conseguira produzir, a Clair espetou o dedo em direção ao parquinho e saiu pisando firme atrás do valente defensor. De longe, eu observava atenta e inflada de orgulho, esperando o momento de intervir para que o meu alemãozinho não destroçasse o azarado moleque que fizera mal à donzela.

Mas nada aconteceu. Depois de um papo calmo, o Carlos voltou, como se nada tivesse acontecido. Perguntei o que houve, você não ia defender a Clair? Não ia brigar com o malfeitor?

- Doch. Aber er war viel größer als ich.
(Sim, disse o meu nem-tão-valente-Carlos, mas ele era muito maior do que eu).

*********

Puta que pariu, que merda, saco – dizia eu enquanto trocava a fralda da Emy pela 543º vez no dia. Apesar de não gostar muito da tarefa, estava irritada mesmo era com a alemã, mãe das crianças e minha então patroa.

O Carlos, em pé, com o braço estirado, segurando no vão da porta, perna direita cruzada atrás da esquerda:

- Você está falando essas coisas todas em português por que não quer que eu entenda ou por que não sabe falar isso tudo em alemão?

Desconfio que a peste, além de falar muito bem o alemão, também falava português.