sexta-feira, 25 de julho de 2008

De Narciso pra cá


Devo estar ficando velha. Ou pior, careta, desatualizada. Não consigo entender essa história de metrossexual. Olho para um e pimba! Já acho que é gay. Nenhum preconceito, mas é que eles costumam fazer sucesso com as mulheres, e é aí que eu me sinto velha.
De acordo com um site pró-metrossexualismo, “a palavra metrossexual é nada mais nada menos que a junção de metropolitano e heterossexual, sendo o seu significado um homem urbano que cuida excessivamente da sua aparência, investindo em boas marcas de roupa, cabeleireiros (em vez dos costumeiros barbeiros), manicure, pedicure, estética a vários níveis, como cosméticos, depilação, bons perfumes, etc”.
Pode até ser uma visão machista, mas tanto narcisismo me parece estranho... Homem deve se preocupar com aparência, sim. Barriguinha de cerveja, por exemplo, não dá. Meia preta com bermuda também é triste, concordo. Mas homem indo ao salão de beleza, dando palpites sobre moda e, pior, se dizendo metrossexual é demais para mim.
Fui acusada, inclusive, de “estar acostumada com homens grossos”, justamente porque não achei bonito um "metropolitano" que causou alvoroço na mulherada. Acostumada com homem grosso, eu??? Arf!!
Mas bem, gurias, melhor assim. Nunca iremos disputar o mesmo homem, ou melhor, metrossexual. De qualquer forma, a mitologia grega dá pistas...
Ali chegou um dia Narciso, fatigado da caça e sentindo muito calor e muita sede. Debruçou-se para desalterar-se, viu a própria imagem refletida na fonte e pensou que fosse algum belo espírito das águas que ali vivesse. Ficou olhando com admiração para os olhos brilhantes, para os cabelos anelados como os de Baco ou de Apolo, o rosto oval, o pescoço de marfim, os lábios entreabertos e o aspecto saudável e animado do conjunto. Apaixonou-se por si mesmo. Baixou os lábios, para dar um beijo e mergulhou os braços na água para abraçar a bela imagem. Esta fugiu do contato, mas voltou um momento depois, renovando a fascinação. Narciso não pôde mais conter-se. Esqueceu-se de todo da idéia de alimento ou repouso, enquanto se debruçava sobre a fonte, para contemplar a própria imagem”.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Legítima notícia

Já diziam os professores de jornalismo: se um cachorro morde uma pessoa, não é notícia. Agora, se uma pessoa morde o cachorro, aí sim é notícia - em uma referência ao caráter inusitado do fato jornalístico. Com essa onda de pit bulls estraçalhando gente por aí, o "comum", neste caso, é notícia sim. Mas, quem diria, eis um legítimo fato jornalístico, saído da metáfora das aulas para os jornais:


Fonte: Jornal Zero Hora

terça-feira, 22 de julho de 2008

Um dia comigo

Já cansei de escutar que trabalhar na praia, na serra, em eventos, não é trabalho. “Ah, que vida boa. Isso é que é trabalho”, dizem. Pois bem. Eis o relato de apenas um dia de “não trabalho”na Estação Gramado.

Sexta-feira. Final de semana à vista, ou seja, mais trabalho. Neste caso, show do Luiz Melodia no sábado, ator Mário Frias na pista de patinação no gelo, no domingo. Às 8h30 o trabalho já começou. Abro o jornal, vejo que o colunista de uma das páginas mais lidas trocou as bolas com as informações. Assessora de imprensa entra em ação. Ok, tem errata amanhã.

Repórter da rádio liga para a assessora que sugere uma entrevista com o Luiz Melodia. Repórter da rádio:

- Ah sei, ouvi falar. É um cara que trabalha na prefeitura e canta bem, né?
Aiiiiiii…..
E assim passa o dia. Entre computador, textos, evento, repórteres ligando para assessora, assessora ligando para repórteres. Revistas, muitas revistas nacionais. Tem que bombar…
Noite, 20h30, começa um programa de TV ao vivo. Fome. Temperatura caindo, nada de banho. Produtores surtando, os turistas de Fortaleza que não chegam. Atucanação. Assessora de imprensa com fome decide comprar pão caseiro na Casa do Colono. Celular toca. Alguém desesperado gita:
- Corre aqui...

Assessora sai correndo.

Havia um degrau no meio do caminho. Já era. Pé torcido, mas vamos lá. Mais uns incêndios apagados, é hora de comer. Banho, ainda não. São 22h.
Restaurante chique francês, fondue, vinho. Equipe reunida, brindando, chefe proibido de falar de trabalho. O pé torcido na bota começa a incomodar… Ops, não dá para encostar o pé no chão. Ai, o pé não cabe mais na bota! (Assessora de imprensa com pé engessado, sem carro, em evento, não dá! Tem mais 1 mês pela frente. Agüenta firme…)

Fim do dia: assessora de imprensa descalça em restaurant chique, com o pé no gelo. Sai carregada, com a bota na mão. Cadê a meia? O garçom levou por engano.
1h30 do dia seguinte: assessora volta para a pousada carregada pelo chefe (vergonha…). Preces da assessora : Deus, por favor, faz meu pé melhorar, amanhã tem Luiz Melodia.

A primeira vez


Tem coisas que só o jornalismo faz por você



Lembro de estar na sala de minha casa, em um condomínio em Salvador, devia ter uns 5 anos de idade. A televisão estava ligada no Jornal Nacional. Diferentemente do que acontecia todas as noites, meus pais e meus irmãos não estavam na sala acompanhando o telejornal. Costumava ser um momento de reunião da família, até por que os filhos, ainda pequenos demais, pouco queriam saber do jornal. O pai pedia silêncio enquanto ouvia as notícias e nos intervalos a bagunça era permitida. Nesse dia, não lembro bem a razão, mas estávamos só eu e minha mãe, ela na cozinha e eu na sala. Foi aí que aconteceu a cena que se tornou a primeira lembrança que tenho da vontade de ser jornalista: eu ali, sentada em frente à TV, comecei a imitar o que a apresentadora falava, repetindo frase por frase, tentando acertar também na entonação e nos trejeitos.

Não sei se foi naquele instante que decidi ser jornalista. Provavelmente, não. Mas de fato, me lembro do fascínio que sentia quando via reportagens, telejornais, apresentadores de televisão. Naquela época, pelos anos de 1988, jornal, rádio ou revistas ainda não existiam para mim. Alguns anos depois, outra lembrança. Estava na sexta ou sétima série, nas aulas de redação. Como nunca gostei de matemática ou física, nem mesmo de educação física, sabia que jamais poderia ser médica ou engenheira. Gostava das aulas de história e redação, e começava a saborear o gostinho de um texto bem escrito. Foi em uma dessas aulas que li “A velhinha de Taubaté”, de Luis Fernando Veríssimo. Depois, me recordo de “Capitães de Areia”, de Jorge Amado, forte e irresistível. O prazer daquelas leituras e o humor do texto de Veríssimo provocaram o meu gosto pelas palavras. E a cada encontro como aqueles, com textos e histórias contadas brilhantemente, a vontade de ser jornalista foi se manifestando. Embora um escritor não seja, necessariamente, um jornalista, creio que um bom jornalista tem algo de escritor.

Ainda diziam que eu seria advogada, uns vizinhos ou parentes, tão respondona e cheia de argumentos que era. Vou fazer jornalismo - respondia sem hesitar à pergunta que faziam sobre o vestibular. Quando entrei para o Ensino Médio, minha família se mudou para uma cidadezinha de Santa Catarina. Veio o vestibular, sem que eu tivesse uma só vez me questionado com relação à minha escolha profissional. Passei, fui morar em Porto Alegre e cursar a Faculdade de Comunicação Social da PUCRS. Cheia de idealismos, de opinião e alheia à rotina do mercado, cheguei sem saber o que realmente faz um jornalista. Não sabia quanto ganha um profissional, como funciona uma redação, que existe um editor, uma área comercial nas empresas, que existe assessoria de imprensa.

Durante a faculdade, fiz estágios, passei por edição de vídeo, impresso, assessoria de imprensa e rádio, morei fora do país. Conheci jornalistas maravilhosos, profissionais que engrandecem a profissão e outros que, pelo contrário, a desmerecem. Descobri que o jornalismo não é exatamente o que eu pensava, mas que fiz a escolha certa. Porque o mundo da comunicação é fascinante, porque o jornalismo nos proporciona o contato com diversos mudos – da política às artes, da agricultura às cidades (como diz a Bibi, “tem coisas que só o jornalismo faz para você. Para todas as outras, existem Mastercard”). Jornalismo é aventura e, ao mesmo, tempo, frustração pela busca infinita da melhor representação do real.

Ser jornalista é quase um estado de espírito, e não apenas um ofício, daqueles que a pessoa vai o trabalho, cumpre suas funções, termina o expediente e volta para casa. A gente “vira” jornalista e não consegue mais separar a “pessoa jurídica” da “pessoa física”.