sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Histórias de boteco



Pérolas do Nito
Fim de noite no Bar do Nito. Apenas duas mesas ocupadas: um senhor melancólico bebendo sozinho, sentado bem em frente ao pequeno palco, e um casal. O Nito toca, acompanhado de um violão, cigarro e cerveja.

- Toca uma música aí para o casal. Uma música sentimental, sincera...
Bem... mas todas as músicas são sinceras, não é? – começa o velho.
- É. Todas as artes são sinceras... – filosofa o Nito.
- A filosofia é sincera...
- A ciência não, a ciência não é sincera.
- É verdade.
- A religião é sincera?
- Ah, acho que sim. Cada religião é sincera.
- É verdade...
- Então, com tanta sinceridade, chegamos a Chico Buarque. Toca um Chico aí pro casal.
- Não... Não quero tocar. Chico Buarque tem muita proparoxítona. Muita proparoxítona... Não gosto de proparoxítonas...


**************

Mulher indigesta

Música em homenagem a uma mulher que queria dançar no bar (no bar do Nito não se dança. Há 20 anos é assim: papo de mesa, boa música e cerveja):

“ Mas que mulher indigesta!Merece um tijolo na testa
Essa mulher não namora
Também não deixa mais ninguém namorar
É um bom center-half pra marcar
Pois não deixa a linha chutar
E quando se manifesta
O que merece é entrar no açoite
Ela é mais indigesta do que prato de salada de pepino à meia-noite
Essa mulher é ladina
Toma dinheiro, é até chantagista
Arrancou-me três dentes de platina
E foi logo vender no dentista”
( Mulher indigesta - Noel Rosa)

*******************

Poema de Natal, Vinícius de Moraes

A frase do poeta na parede do bar:

“De repente nunca mais esperaremos Hoje
a noite é jovem, da morte apenas nascemos, imensamente”.

- Não entendi aquela frase ali do Vinícius.
- Não é pra entender. É poesia.
- Não tá faltando um ponto ali?
- Nada... vai querer botar ponto no Vinícius? Isso é licença poética.
- Licença poética... Mas deveria ser: “De repente nunca mais esperaremos hoje. A noite é jovem; da morte, apenas nascemos, imensamente”. Tem um aposto ali ou um vocativo...
- Deixa o Vinícius. Vamos mudar de frase...


“ De repente nunca mais esperaremos...Hoje a noite é jovem; da morte, apenasNascemos, imensamente”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário