Devia estar feliz.
Afinal, mães são perfeitas. Semideusas misteriosas, que
compartilham com a natureza o dom de gerar a vida.
Mas, enquanto o bebê chorava, permanecia sentada na cozinha,
implorando ao marido pelo telefone que voltasse. Não podia pegá-lo do berço,
não conseguia.
Ele era loiro, de olhos claros, sorria o sorriso sem dentes
mais lindo que podia existir. Quis tanto aquele menino que, nos dias férteis, após
a transa, corria para o banheiro disfarçada, pulava na banheira vazia e jogava
as pernas para cima. Tinham lhe dito que nessa posição o espermatozóide chegava
mais depressa ao óvulo faminto. Mas jamais admitiria fazer o truque na frente
do marido.
A mãozinha, ou
melhor, o truque das pernas, funcionou. Ou seja lá o que quer que tenha feito
aquele projeto de gente chegar ao seu destino para se tornar um filho.
O filho festejado pelo marido, pela família. O filho cujo
rosto sonhou conhecer durante todos aqueles meses de espera.
Como podia sofrer tanto agora e amar com tanta força ao
mesmo tempo?
Estava longe de casa, da família, dos amigos. Via-se como
numa cena alheia, mais magra, esvaindo-se em
leite e lágrimas, encolhida.
Às vezes passava, aliviava-se em poder amar sem dor. Mas o
medo voltava e o marido corria do trabalho para casa para socorrê-la.
Depressão pós-parto.
Claro que já tinha ouvido falar, talvez até tenha lido em
alguma revista feminina a respeito. Mas a palavra ‘depressão’parecia tão limitada diante desses momentos repletos
de culpa, ansiedade, medo e amor...
****
Minha amiga terminou seu relato sobre sua difícil experiência
desabafando: “eu nunca vi nenhuma mãe falar como é difícil. Estão todas sempre
falando de como seus bebês são fofinhos, e tudo é lindo, maravilhoso”. Creio que muitas não têm
coragem de compartilhar o que consideram fracassos pessoais; melhor seguir o
roteiro das mães felizes na frente das outras mães. E tem a culpa, quando nem
pra nós mesmas queremos admitir o que sentimos.
Eu não sou mãe para saber, mas admiro a coragem dessa mulher
na qual se transformou minha amiga de infância, que assume a sua dor e não
esconde o que passou só porque agora, felizmente, tudo está bem.
Ela é uma de tantas mulheres incríveis, mães, que têm me
confiado suas experiências. Não sei a razão de abrirem seu coração justo para
mim, mas talvez seja simples: porque não
sou mãe, não vou julgá-las na obrigação de parecerem felizes. Tampouco sou suas
próprias mães, que talvez dirão que tudo é besteira, que criaram 4 filhos
sozinhas, sem empregada, e foi simples assim.
E, pelo que tenho ouvido, não é fácil mesmo. Parir um filho
é fazer nascer uma nova mulher, um novo casal, sem se perder de si mesma.
Mas minha amiga não se perdeu. Se tratou, contou com o amor
da família, de seu homem ( que também deve ter passado por momentos difíceis
para segurar essa barra!) e ressurgiu mais dona de si do que nunca, linda,
madura e, acima de tudo, a mãe que sempre sonhou ser.
Esse é o textio mais lindo que já li!!!
ResponderExcluirNão sei se é porque fala de mim, mas achei fantástico.
Parabens amiga, estou muito emocionada para continuar escrevendo!
Obrigada!