quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Na terra em que o mar não bate

A lembrança mais forte que tenho dos 15 anos em que vivi na Bahia é musical. Após quase 10 anos “ fora de casa”, às vezes parece que o passado está quieto, longe, guardado em uma vida que nem é minha. Para me lembrar do quão forte é a minha ligação com a terra tão cantada em que nasci, basta escutar alguma música dos baianos que embalaram os anos 80 e 90 em todos os cantos de salvador. Sim, porque na “terra da magia” qualquer lugar é lugar para a música, para os timbaus, para dançar.

No ônibus, quem senta no fundão assume o posto de cantador. Sem cerimônia, o baiano solta o repertório na ponta da língua e improvisa um batuque no assento da frente. Nas praias, as barraquinhas tratam de equipar as areias com caixas de som e alto falantes que fazem a trilha sonoras dos dias de sol perfumados com sal do mar, acarajé e peixe. Nas escolas, o recreio também tem música, e até um trabalho de colégio pode ser musical. A criatividade conta ponto.

A música me lembra as primeiras festas com as amigas, para as quais nos preparávamos com antecedência, ensaiando os passos juntas para acertar a coreografia. A música da Bahia não precisa ter letra. É muito mais do que melodia. É uma cultura, um estilo de vida ensina qualquer baiano, desde o seu primeiro mar, a ser espontâneo, a dançar quando tiver vontade, a falar alto e transmitir alegria.

Quando escuto estrofes como “Ah, que bom você chegou, bem-vindo a Salvador...” ou “Timbalada é a semente de um novo dia, nordeste sofrimento, povo lutador”, o coração responde imediatamente. Dá vontade de botar os pés na areia, voltar a ser baiana, dançar na rua e chorar com o trio elétrico.

Uma música:
Beira Mar
(acho que é do Gil)

Na terra em que o mar não bate
Não bate o meu coração
O mar onde o céu flutua
Onde morre o sol e a lua
E acaba o caminho do chão

Nasci numa onda verde
Na espuma me batizei
Vim trazido numa rede
Na areia me enterrarei
Na areia me enterrarei

Ou então nasci na palma Palha da palma no chão
Tenho a alma de água clara
Meu braço espalhado em praia
Meu braço espalhado em praia
E o mar na palma da mão N
o cais, na beira do cais
Senti meu primeiro amor
E num cais que era só cais
Somente mar ao redor
Somente mar ao redor

Mas o mar não é todo mar
Mar que em todo o mundo exista
Ou melhor, é o mar do mundo
De um certo ponto de vista
De onde só se avista o mar
E a Ilha de Itaparica

A Bahia é que é o cais
A praia, a beira, a espuma
E a Bahia só tem uma
Costa clara, litoral
Costa clara, litoral
É por isso que é o azul
Cor de minha devoção
Não qualquer azul, azul
De qualquer céu, qualquer dia
O azul de qualquer poesia
De samba tirado em vão
É o azul que a gente fita
No azul do mar da Bahia
É a cor que lá principia
E que habita em meu coração
E que habita em meu coração

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