Não há contas a pagar, trânsito,
novela, aquecimento global, iphone, facebook, almoço de domingo, rotina. Não há
volta pra casa.
Enquanto o relógio corre aqui fora, lá
dentro só linha reta infinita. Paredes largas, eco, corredores, vozes ferozes,
aberturas sem janelas.
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Não é uma prisão qualquer. Na
Penitenciária de Segurança Máxima não há celas cheias nem distrações. Há uma pessoa
cercada por paredes brancas, uma pequena abertura por onde entram comida e
vozes, um buraco para o calor e o frio.
E uma estrutura gigantesca e cara
mantida pelo Estado para garantir que aqueles lá fiquem longe da vida aqui.
Antes de ir, pensei que pudesse
sentir medo, talvez repulsa. Mas vi pela janela estreita da cela um olhar de
dor, uma solidão pesada e fria como as portas de ferro.
O que senti foi uma profunda
compaixão.
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Quase todos os detentos lá são
acusados de crimes graves, muitos traficantes, assassinos. Não duvido que todos
(ou quase todos) mereçam estar lá. Devem, sim, cumprir suas penas até o fim.
Mas não deixa de ser triste ver uma
vida condenada a 30 anos “de nada”.
Criamos masmorras para isolar pessoas
capazes das maiores atrocidades.
A essas pessoas foi imposta a pior pena
que se pode receber, mesmo em uma prisão que leva em conta os direitos humanos:
A sentença de ficarem sozinhas, sem
distrações e companhias, com todo o tempo do mundo para pensar em tudo o que
foi e no que não pode mais ser. Isoladas de tudo e todos, com breves momentos
de contato com poucos familiares. Tendo que exercer a obediência absoluta, a
total falta de privacidade.
Nenhuma liberdade.
Nenhuma liberdade.
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Visitei essa prisão para uma matéria
sobre um projeto que foi implantado lá, cujo objetivo é incentivar a leitura
entre os presos. Eles ganham o direito de reduzir alguns dias de suas penas
conforme as obras que leem e as resenhas produzidas.
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