quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Aqui não é pra ser feliz

Dá pra passar a vida incólume no meio de tanta DOR?No mesmo dia da tragédia em Santa Maria um encontro me fez pensar em felicidade



Uma das coisas que sempre me causaram certo desconforto no discurso religioso em geral é que, por trás, sempre há uma ideia de que vivemos nesse mundo para aprender pela dor, corrigir erros passados, superar carmas.
A felicidade não é desse mundo.

Para uns, o inferno é mesmo aqui; enquanto outros passam pela vida sem dores quaisquer que não possam ser curadas pelo travesseiro e uma noite após a outra.

Passamos a vida atrás de um amor pra ser feliz, cuidando da saúde para ser feliz, trabalhando para comprar o que gostamos e viajar... tudo em nome da tal felicidade. E aí, quando ela parece possível, a vida pega a gente pelo braço, sacode e diz: ei, olha quanta tragédia ao seu redor!
Nessas horas sempre penso: será que dá pra passar a vida incólume no meio de tanta dor?

Hoje foi um desses dias. Mais de 200 jovens dançavam e se divertiam em uma casa noturna de Santa Maria (RS) quando aconteceu o incêndio. E, assim, como quem vira a esquina, acabou. Nem felicidade, nem vida. Se foram. Seus familiares passarão o resto dos dias carregando esse infinito de sofrimento nas costas. Fim.

As tragédias se somam diante dos nossos olhos sem dar fôlego ou chance pro esquecimento.
Grávida é baleada na frente de casa em SP e morre.
Tiroteio em escola nos EUA mata 27 crianças.
Empresário é morto a tiros durante o dia... a apenas algumas quadras da minha casa.
Diante de câmeras de segurança nas ruas e celulares, não nos resta sequer a benção de não querer ver. Acompanhamos o sofrimento alheio à beira de um ataque de pânico, engolindo um suspiro egoísta que diz “ufa, não foi comigo. Ainda sobrevivo”.

*****

Antes que eu me torne mais uma consumidora de medicamentos para a Síndrome do Pânico – cerca de 170 milhões de pessoas em todo o mundo são acometidas por esse mal atualmente! – preciso lembrar que no mesmo dia da tragédia em Santa Maria um encontro me fez pensar em felicidade.

Conheci no aeroporto uma daquelas pessoas que já nasce com o dom de ser feliz – não dependem de nada para serem felizes, nem nada pode lhes tirar esse estado de espírito.

Ela é modelo, economista, linda, jovem, inteligente, recém casada. Tudo perfeito? Não. Há pouco mais de um ano recebeu um diagnóstico de linfoma que fez parar sua vida aos 28 anos.  Foi “chamada a parar tudo e refletir”, em suas próprias palavras.

Do câncer e seus dramas, como a perda de cabelo e quimioterapia, surgiram um blog, vídeos no youtube, uma coluna da Revista Claudia, solidariedade e, certamente, uma energia que se propagou e ajudou a muitos doentes.

Com sorriso e fé, ela conseguiu superar a doença disseminando uma mensagem muito bonita.

Em alguns minutos de papo no carro, no trajeto entre Guarulhos e São Paulo, senti essa energia bacana que algumas pessoas emitem com luz nutural. Antes mesmo de ler o blog e conhecer a história a fundo, já era fã.

Em tempos difíceis, sempre bom cultivar a esperança: