terça-feira, 26 de janeiro de 2010

As mães da piscina


A piscina do prédio é o lugar onde todos se encontram. E todos, neste caso, quer dizer  os milhares de moradores das 11 torres com 24 apartamentos em cada uma. Faça as contas. Tem muita gente no condomínio, mas desconfio de que elas só descem de casa no verão, para ir ao clube. Durante as demais estações do ano, não sei onde se enfiam. Com exceção das mães. Essas sim, estão sempre pelas ruas arborizadas e ornamentadas como planta de arquiteto, crias a tiracolo.

As mães são as donas do condomínio. Quem passa apressado saindo para o trabalho ou chegando carregado de sacolas do supermercado é fitado com desdém. Elas acompanham com o olhar sem sorriso aquele estranho que não integra o seleto grupo dos que se conhecem nesse mundaréu de viventes empilhados. As mães não se misturam e não cumprimentam outra classe social.

Chega uma fase na vida em que só faz amigo no prédio quem tem filhos. Sobretudo se o prédio conta com uma enorme área de lazer, local preferido das famílias com mais de dois integrantes. E, enquanto os "sem-filho" sequer enxergam o vizinho de porta, os pais e mães andam em grupos barulhentos de crianças, babás e cachorros. Mas é na piscina que se dá a revanche.

Como se sabe, mulher não esquece e não perdoa. Quem é essa fulana que se acha a dona do prédio só porque conhece todo mundo e experimenta os milagres da maternidade?

Era domingo e, de longe, já se podiam ouvir os gritos das crianças. Elas gritam muito quando estão na água, repare. De um lado, panelinhas encorpadas juntam mesas e cadeiras, cervejas, quitutes e bóias. Tímidas, as “não-mães” chegam com os não menos constrangidos “não-pais”. Sentam-se, pegam livro, jornal, dão um mergulho rápido. Não é possível nadar com tantas bombas aquáticas explodindo.

Enquanto as mães orgulhosas observam as acrobacias de seus pequenos em seus biquínis comportados e rabos de cavalo, as sem-filho permanecem silenciosas em suas leituras e banhos de sol. Estateladas nas cadeiras, arrumam os diminutos biquínis, alternam posições, rolam de um lado a outro, alheias ao tumulto.

É na hora em que os pais assumem a brincadeira na água que uma moça bronzeada levanta, balança os cabelos, caminha com o olhar pra cima de quem não tem filhos pequenos pra cuidar e mergulha.

Os pais param. As mães se agrupam. São alguns instantes de silêncio. As sem-cria levantam os olhos de seus livros e, vingadas, sorriem.