quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Jornal com pimenta na língua


Minha mais nova aquisição: fac-similar do jornal criado por Oswald de Andrade e Pagú

Políticos, estudantes de direito, moçoilas normalistas da burguesia paulistana e até a realeza inglesa eram alguns dos alvos prediletos do bombardeio verbal disparado por Oswald de Andrade e Pagú, em seu jornal ‘O Homem do Povo’. Criado pela dupla modernista em 1931, o tabloide insolente pertubou tanto a elite da época, que não passou de oito edições.
Mesmo com vida curta, o jornal é um registro contagiante das vozes daquele momento histórico, repleto de referências políticas, comunistas e feministas, além de uma ortografia antiga que revela uma mudança brutal na Língua Portuguesa no decorrer no último século.

Pagú, impetuosa e libertária, não só escreveu muitos dos textos junto com Oswald como também desenhou quadrinhos e charges. Na coluna “Mulher do Povo”, fazia críticas ferrenhas às “senhoras catholicas” da tradicional sociedade, como na edição de 4 de abril de 1931. Abaixo, um trecho do artigo “Liga das trompas catholicas”:

“(...) E as senhoras catholicas se succedem num espoucar de normalistas e estudantes hipócritas, cheias de vergonha e bons modos (...). E vão vivendo a vida desmoronando e pequena. E a organização das ligas de trompas continuam escondendo qualquer consequência da sua falta de liberdade.
Senhoras que cospem na prostituição, mas vivem soffrendo escondidas num véu de sujeira e festinhas hipócritas e massantes, onde organizam o hymno (hino) de cornetas ligadas pr’a todos os gosos, num coro estéril, mas barulhento.”


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No dia 9 de abril de 1931, um grupo de estudantes da Faculdade de Direito de São Paulo reuniu-se na praça da Sé para protestar e atacar a sede do periódico, após a publicação de uma violenta crítica àquela instituição. Segundo uma matéria no site O Povo Online, no segundo dia de manifestação, Pagú reagiu dando tiros em direção aos estudantes, além de atacar os manifestantes à unhadas. Pagú e Oswald foram levados para a central de polícia. Assim terminou a aventura do “O Homem do Povo”.